segunda-feira, 31 de outubro de 2011

A Embriaguez de Duas Novas Matrizes - Sexto Encontro Cravo do Canavial / UFRN




As cabeças que giram por dentro em espiral. Os órgãos que pulsam irrigados pelo líquido vermelho. Sinto náuseas, tento controlar... Não sei por que.
Na dúvida me deixo levar. Entro no universo da embriaguez, cambaleante pela sala agora, toda bêbada. No jogo das matrizes, a burrinha chegou primeiro, com sorriso contagiante de quem está tirando uma onda.
A primeira impressão é que o sorriso era tenso. Mas analisando o resto da postura corporal, é um sorriso relaxado. A tensão foi minha, na hora da mimese. Chegou a hora dos clowns.
Carla nos pediu para inverter nossas características, momento difícil. Confusão total! Se já não tenho, ou tinha, até então claro o meu clown, o exercício serviu para reafirmar a mania de limpeza como a principal característica. Ou a sujeira. Continuo confusa.
Para melhorar um pouquinho, Carla nos apresenta Mateus, que até agora foi a matriz mais difícil. Principalmente porque tivemos que mesclar com o nosso clown, e com o nosso clown invertido.
Aí sim. É Mateus, é clown, é burrinha, é resgate da dama do paço, clown invertido, saudação à Jurema (só de pensar nisso dói a perna, coitadinho do meu cotovelo, dói até a alma), entra o mestre e todo aquele esquentamento, passo pra um lado, pro outro, rodopio, ufa!
E quando você pensa que já deu tudo, vêm as cenas do Baixio – que diante de tudo isso, atualmente, é meu momento de relaxamento. Por incrível que pareça.
Mas é relaxamento corporal, gente. Porque por dentro, os órgãos estão em espiral, como no inicio do trabalho, só que agora não é só a cabeça. O corpo todo é o próprio espiral. Um espiral de felicidade, de saber que textos, músicas que criei, estão sendo aproveitadas nas cenas.
Me orgulho de ser um dos cravinhos desse canavial de lindíssimos cravos.

                                                                                                                                Vânia Bertoldo

sábado, 22 de outubro de 2011

Ritual: Cravos que dançam e interagem e geram experiências sensíveis

Relato do Quinto Encontro do Cravo do Canavial - UFRN




Calunga de Cera.
 

A Matriz - Dama do Paço


Etapa da Observação


Mimese Corpórea - Matriz Dama Paço

O quinto encontro de trabalho do projeto Cravo do Canavial foi dividido a partir de três motes de criação: Ritual de saudação à Jurema, Esquentamento, Baixio das Bestas.
Iniciamos a primeira parte do trabalho deitados no chão, com o corpo alinhado e as palmas das mãos viradas para o chão. Trabalhamos com a imagem do barro vermelho. O barro seco, mas que quer ganhar vida, se tornar frutífero, ser expressividade. A metáfora do barro pode ser entendida como nosso corpo, nossos sentimentos mais íntimo, nossas memórias, nossa pulsão de vida.
Cada vez que Carla batia palma, congelava no movimento e tentávamos compreender e armazenar corporalmente as imagens. Ao total foram cinco imagens codificadas, que foram se transformando em uma dança pessoal, dança das nossas memórias advinhas da imagem barro vermelho ressecado. 
Estimulados pela condução, fomos inserindo em nossa dança melodias, sussurros, gemidos e sorrisos.  Esse trabalho resultou na criação de uma sequência pessoal que se desencadeou na Saudação à Jurema. Esse momento pode ser considerado com um ritual que nos lançou para uma dimensão mais profunda com nosso trabalho, nos deparando conosco mesmos na busca do momento sagrado individualcoletivo na arte, estabelecendo contato com energias mais íntimas e primitivas.
Após o término de experimentação da dança pessoal-primitiva, Carla colocou no centro da sala uma fotografia da Calunga e pediu que nos reuníssemos em torno da foto. Ficamos olhando os mínimos detalhes e as impressões que ela repercutia em nosso corpo, em nossa memória muscular-ancestral.
Pegamos nossas anotações sobre a jurema e líamos, incorporando a imagem vista ao conceito pesquisado. Ao final dessa experiência, Carla pediu para que cada um criasse uma saudação em primeira pessoa para a sua Jurema (religião que cultua mestres e caboclos). Após a criação da saudação, cada uma dos participantes ia para o meio da sala, fazia seu ritual e no final dizia a sua saudação.
Depois do ritual de saudação à Jurema, demos início ao trabalho da Mímese Corpórea, que se fundamenta na minuciosa observação, codificação e teatralização de ações físicas e vocais de pessoas, animais e imagens estanques (fotografias e quadros). Foi o primeiro encontro em que adentramos no universo da mimese corpórea. Carla colocou uma sequência de cinco imagens da Dama do Paço, figura do Maracatu Rural na sala e ficamos olhando as imagens, e deixando que elas nos seduzisse e tocassem  nosso íntimo. Nesse momento você não escolhe a foto, mas ela te escolhe para viver seu universo. Quando todos haviam selecionado uma foto, ficamos por um bom tempo observando e em contato com a imagem, percebendo os pequenos detalhes, como por exemplo, estavam direcionadas as mãos, os olhos, o sorriso etc. Reproduzimos fisicamente a imagem, procurando ser o mais fiel possível à foto, recriando a corporeidade observada no nosso corpo, ainda que de forma mecânica.
Experimentamos aos poucos andar com a figura, mas algumas vezes era preciso retornar à imagem original para checar os detalhes. Na experimentação, descobrimos formas de ligar e desligar a figura em nosso corpo através dos punctums, que pode ser entendido como pequenos detalhes da ação que quando ativados remetem matriz, ou seja, pontos de ativação corpóreos que permitem retomar a imagem como um todo. Experimentamos também fazer nosso ritual pessoal de saudação à Jurema e depois adentrar na mimese da Dama do Paço.
Na segunda parte da aula, retomamos as sequências codificadas nas aulas anteriores. Percebi que já temos propriedade de trabalhar com esses materiais, por isso, o trabalho fica cada vez mais fluido, mais dinâmico, mais prazeroso. Essas sequências individuais, ao se relacionarem, como foi proposto nesse encontro, ganharam outro significado, outros sentidos, e pequeno detalhes, olhares, contatos com o outro faziam com que elas fossem possibilitando esquemas dramatúrgicos não intencionalizados, mas que emergiam a partir do jogo, da relação estabelecida com o outro. O que poderíamos intitular de processo de afetação: quando o intérprete sai da sua órbita e se permite navegar na órbita do outro e dançar seu ritmo sem se anular. Nesse jogo, emerge uma terceira ação que nem eu nem ele sabemos ainda, mas que futuramente, a partir do ensaio, revelará uma pedra preciosa. Assim, ficou combinado que cada dupla iria experimentar novas formas de organizar dramaturgicamente a sua sequência.
          A terceira parte do trabalho foi destinada tanto ao esquentamento como à cena do Baixio das Bestas. Aprendemos uma sequência de movimento do Maracatu Rural que será nosso esquentamento durante todo o processo criativo. A figura do mestre no nosso esquentamento é de fundamental importância, pois ele coordenará toda a brincadeira. Em nosso processo, essa figura será representada em cada encontro, por um dos atores que coordenará o esquentamento e cantará uma loa.
Partimos do esquentamento e das sequências individuais “O carro não pode andar na frente dos boi”, para se desdobrar na cena coletiva de Baixio das Bestas. Essa cena a cada dia vem ganhando novas dimensões, se ressignificando a cada vez que a vivenciamos, possibilitando territórios poéticos para o ator criador. No encontro de hoje, uma das atrizes produziu um texto “poético-viceral” que deu outro sentido à cena do Baixio. Esse texto ora era narrado pela atriz, ora tinha fragmentos pronunciados por outra atriz, que com outro ator executava uma ação, gerando novas poéticas da cena.
Portanto, o processo criativo do Cravo Canavial tem se mostrado revelador, uma vez que, a cada novo encontro, o trabalho é redimensionado a partir da experiência pessoal de cada intérprete, delineando uma singular poética de criação. São corpos que interagem e geram experiências no âmbito sensível.


Rodrigo Severo








quinta-feira, 20 de outubro de 2011

FULÔRANDO...





"Era um caminho quase sem pegadas
onde tantas madrugadas folhas serenaram
Era uma estrada muitas curvas tortas
quantas passagens e portas ali se ocultaram
Era uma linha sem começo e fim
e as flores desse jardim meus avós plantaram."

(Siba e a Fuloresta - Música: Vale do Jucá)


 

Cientec / UFRN - 2011

Os Princípios do Cravo aplicados em Oficina para Professores da Rede Pública de Ensino.


A Matriz


O Lugar


Dinâmica Caboclos de Lança

A Turma

Raza Box

Partituras em Jogo

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Quarto Encontro - Cravo do Canavial (UFRN)

O caminho do Cravo Canavial se abre cada vez mais nos passos que vamos dando, nas vozes e nos corpos que colocamos à disposição, nesse processo. A cada encontro, sinto que o grupo se apropria cada vez mais desse universo denso e misterioso do Maracatu (com "M" maiúsculo, sim!) e, ao mesmo tempo, descobre que sua vastidão ultrapassa os limites do nosso alcance.

Um novo espaço (a casa de Zeca) foi nosso locus de trabalho, dessa vez. Alongados e aquecidos depois de um "tica-caranguejo", fomos às partituras corporais e aos passos que estivemos trabalhando individualmente e em grupos. Logo, essas partituras foram se tornando cada vez menos abstratas e, sob a agulha de Carla, começaram a se costurar umas nas outras. A conexão entre os grupos gerou o esboço de uma cena coletiva que culminava na briga entre os caboclos de lança por ocasião, George e Aldemar, e fechava com chave de ouro na voz de Vânia "perversidade nos canaviais...".

Perversidade e ludicidade?! O grupo transita entre a sombra da brincadeira e o brinquedo. Ora denso, como as cenas inspiradas na crueza do Baixio das Bestas, ora leve, como os caboclos que dançam com lanças e roupas tão pesadas. Ora colorido e vibrante, ora negro e violento. O Maracatu é milagre que une a guerra e a dança, a dor e a alegria, a brincadeira e a seriedade...e por aí vai...até onde não sabe(re)mos...

O resto do encontro foi momento de alimentar nossas almas com fotos e vídeos desse universo e, ao final, nos juntamos para cantar a música escrita por Vânia e descobrir novas formas de entoá-la. Também começamos a discutir e vislumbrar frutos desse processo...vamos aguardar!

                                                                           Andressa Hazboun


Registro realizado no Engenho do Cumbe
Maracatu Cambinda Brasileira (Fev. 2011)

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

"A MENINA DANÇA" / Terceiro Encontro - Cravo do Canavial: O Processo (UFRN)

O nosso terceiro encontro foi muito engrandecedor. No inicio, limpamos nossas almas abrindo nossos chacras da cabeça, do peito e da bacia para harmonizar nosso corpo e receber os trabalhos. E uma energia nova foi sendo construída, crescendo no corpo e com o corpo de cada um. Bem depois, já estávamos cansados e exaustos, entretanto com uma nova energia, pulsante, viva e intensa pronta para a brincadeira do Maracatu, as movimentações da brincadeira transformaram-se e ganharam vida no corpo de todos.
A energia construída na brincadeira se opôs a energia do filme Baixio das Bestas, assistido por nós. A energia do filme é pesada, densa. O complicado foi transformar essas duas energias nos exercícios propostos, mas elas foram se diluindo.
Criamos, juntos, a melodia de uma música, escrita por uma das integrantes do grupo! Esse encontro foi muito produtivo, cada dia estamos mais juntos!
Terminamos leves, como pássaros, livres! Prontos para voar e criar muito mais! Como vários pássaros que sobrevoam seus enormes canaviais, cheios de surpresas e histórias.
“E se você fecha o olho
A menina ainda dança.
Dentro da menina
Ainda dança
Até o sol raiar.”
                                             (Novos Baianos- A menina Dança)
Essa música foi escolhida por um integrante do grupo no final do encontro. E, é esse o espirito contagiante da brincadeira do Maracatu, mesmo esgotados, dançaríamos e cantaríamos ainda mais!
Que venha a nova etapa do processo, estamos livres e prontos para ela!
                                                                                         Tatiane Tenório

CRAVOS Em Processo...





domingo, 2 de outubro de 2011

Relato sobre o Segundo Encontro - Cravo do Canavial (UFRN)




Iniciação
Pronto!
E o resto da lasquinha de pele de pé se vai!
Sinal de trabalho corporal iniciado!
Sensação boa de fervilhar de idéias e corpo ativado.
Será que vou dormir essa noite?
Vou sonhar em ritmo de Maracatu!
E olhe que é só o começo!

Final de encontro e todos ofegantes, suados, extasiados. O fôlego havia ficado ali naquela sala, entre os passos aprendidos, divididos e compartilhados.
Ficou lá na construção improvisada de ações, no eco das falas.
Apareceu de tudo, de coronéis a malandros espertos, uns sofridos e, outros, guerreiros brabos. Todos em direção a sincronia do movimento com a alma.

Chego na sala e penso, hoje vai ser melhor ainda!
Maravilha de Oficina!
                                                                                                                    
                                                                                                      Potyra